Quando você estiver em sérias dúvidas sobre as condições em que você irá voar vs as suas qualificações vs a viabilidade da segurança de voo, é porque você já deveria ter cancelado este voo a muito tempo...
É eu sei como funciona... lembrem-se que também sou piloto e que convivo com todas as pressões que vocês convivem, e olha, já faz tempo...
Mas eu não estou aqui para te ensinar a conduta ou a postura correta, muito menos para te dar a "chave para o sucesso" na condução das diversas situações que enfrentamos no dia a dia que, diga-se de passagem, eu também não tenho! Eu estou aqui apenas, como seu colega de profissão tentando te passar um pouco do que aprendi e, se isso fizer alguma diferença pra você, sério mesmo, vou ficar muito feliz por poder ajudar.
Como pilotos que somos, vivemos sempre no chamado "fio da navalha", uma espécie de linha tênue entre ser o melhor ou não servir, entre o sucesso e o fracasso; entre ser aprovado no exame médico ou não ser e não poder mais voar; entre o próximo voo de cheque e alguma pendência na agência reguladora que pode te impedir de prosseguir; entre estar empregado hoje, e amanhã não estar mais; entre a decisão correta e acertada, aquela que poucos vão notar e que muitas vezes irá gerar, num primeiro momento, a insatisfação por parte do seu cliente e a decisão errada, que imediatamente será percebida e que provavelmente, dependendo da gravidade, pode até te matar, enfim... são tantas e inúmeras as pressões geradas pelo ambiente profissional no qual vivemos que lógico, eu não conseguiria citar todas aqui. A ideia hoje é baseada no texto da foto publicada, falar novamente sobre a pressão autoimposta.
Quero que você faça uma reflexão a respeito e tente olhar a situação por outro prisma.
Vou te colocar numa situação hipotética baseado na imagem, ok?
Vamos lá:
É véspera de feriado, helicentro lotado, vários pilotos na sala, dezenas de pousos e decolagens... e você está aguardando o seu cliente (patrão ou contratante) para um voo com destino a uma fazenda situada no norte do estado.
A previsão do tempo indica que as condições estarão favoráveis até as 14:00 horas e vocês estão com a sua decolagem prevista para as 12horas, afinal, seu voo terá a duração de 01 hora até o destino. Tudo pronto, helicóptero no spot, você olha no relógio já são 12h30 e nada dos passageiros.
Você pensa: "poxa, eu avisei sobre a mudança prevista...”
Seu passageiro te liga, informa que irão atrasar ainda mais e te dá um novo estimado: "Comandante, vamos decolar as 13h30!”
Você tenta argumentar, mas não surte o efeito desejado e ele ainda te respondem: - “Ah! Para de com esse negativismo, vai dar tudo certo!"
Às 13 horas o vento muda de direção e fica bem mais intenso. Você olha para o horizonte e já consegue ver a pré-frontal chegando. Você pensa: “Vou ligar pra eles para avisar”, mas lembra que reclamaram... então, desiste.
As 13h40, eles chegam. Você ali na sala de pilotos checando as condições constata que vai ser difícil conseguir chegar no destino devido a uma linha de instabilidade entre vocês e a fazenda. Os encontra na sala vip e, ainda lembrando do que ouviu, se cala, decide embarcar os passageiros e decolar...
Será que foi a decisão correta? Há dúvida? Há insegurança?
Bom, vamos ao raciocínio:
Infelizmente, às vezes, você terá que ser o tal "portador de uma má notícia", e sabe por quê? Porque os seus passageiros, na esmagadora maioria das vezes, não são profissionais da aviação, portanto, caberá a você cancelar uma decolagem, alternar ou até mesmo pousar no meio do caminho para garantir a segurança de todos.
Lembre-se, é uma decisão profissional.
Se você opta por decolar em condições marginais, sejam elas quais forem, é a sua decisão profissional, não tente se justificar!
Todas as vezes em que você inicia uma decolagem, todos a bordo tem 100% de certeza de que você está totalmente seguro do que você está fazendo, portanto, agir profissionalmente é a nossa obrigação.
Bons e seguros voos para todos!
Cmte Thales Pereira.
presidente@abraphe.org.br
#safetyabraphe197
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