Olá , bom dia!
Era por volta de janeiro de 2006, quando fui contratado por um empresário de São Paulo para voar seu helicóptero. Aproximadamente 3 meses depois, eu estava no aeroporto onde ficávamos hangarados, planejando um voo com decolagem prevista para a próxima hora.
Helicóptero no spot, recém "saído de uma inspeção de 100 horas", abastecido com o full tank, plano de voo apresentado e aprovado. Tudo pronto!
Dia muito quente, estava fazendo uns 35ºC e eu , dentro do helicóptero com as portas abertas para ventilar um pouquinho, inserindo as coordenadas de algumas localidades que iríamos sobrevoar.
De repente e de um modo estranho, senti uma brisa mais fria entrar pelas portas do helicóptero e quando olhei para fora vi que havia se formado uma tempestade na região de Diadema e que essa tempestade se deslocava com certa velocidade em nossa direção.
Na sequência, recebi uma ligação do meu Chefe cancelando o voo por motivo de compromissos que haviam se alongado além do esperado, me disse: - "Cmte , vamos passar para amanhã, te ligo mais tarde para combinar!"
Guardamos o helicóptero rente à porta pois, neste mesmo hangar, ficavam outros cinco helicópteros e dois aviões. Conversei com o mecânico da empresa e fui embora. Ao sair do aeroporto, a ventania começou e começaram a cair os primeiros pingos da forte chuva que se aproximava.
Após alguns minutos e quarteirões a frente, a chuva apertou... ficou muito forte e a ventania ainda mais intensa! Decidi parar em um posto de gasolina para aguardar a chuva passar e neste momento, recebi a ligação de um outro piloto da empresa, me dizendo que havia ocorrido uma tragédia no hangar...: - "Thales , se você puder , volte, os helicópteros estão amontoados e o hangar sumiu!
O caminho da volta estava irreconhecível, várias árvores no chão, muros e telhados das casas nas vizinhanças do aeroporto estavam destruídos...Quando me aproximei do portão para o acesso aos hangares me assustei ao constatar que toda a cobertura do nosso hangar havia sido arrancada e estava sobre duas casas vizinhas. Inacreditável!
Acessei a rua dos hangares e quando consegui chegar em frente ao que antes era o nosso hangar, só havia um pátio, todas as aeronaves haviam sido danificadas, nosso helicóptero havia sido arrastado por 5 metros, mesmo abastecido com o tanque cheio!
Dias depois, os fabricantes da aeronave e do motor, enviaram seus técnicos para que fosse realizada uma análise de danos.
A fuselagem e os componentes dinâmicos do helicóptero haviam sido danificados, mas era possível a recuperação, pois a estrutura não havia comprometida.
O motor foi analisado e não havia qualquer dano neste componente, aliás foi feito um laudo pelo técnico representante do fabricante, onde, resumidamente, constava: "o motor estaria pronto para o retorno ao serviço e plenamente aeronavegável".
O helicóptero foi então transportado por terra para a oficina do fabricante, com o objetivo de que os reparos necessários fossem iniciados. O motor, como todos os outros motores das outras aeronaves danificadas no mesmo incidente foi preservado e armazenado na seção de motores da empresa.
Meses depois, já com o helicóptero pronto e iniciando os giros de manutenção recebi a ligação de um representante da empresa de manutenção. Ele me informava que o motor do nosso helicóptero estaria cheio de limalhas.
"Vou te enviar as fotos por e-mail!" Ele dizia...
Ao receber as tais fotos, fiquei absolutamente inconformado, pois os detectores de limalha do motor estavam repletos de partículas de metal. Como poderia ter ocorrido isto?!
Liguei novamente para o tal representante da empresa de manutenção e completamente consternado com as imagens enviadas e questionei: -"Se haviam limalhas neste motor e nesta quantidade..., como não tivemos a luz de "Engine Chip " acionada ??"
Respondendo..., ele me enviou uma outra foto e desta vez, do conector do painel de alarmes da aeronave, com o pino responsável pelo acionamento da luz de limalha danificado como se tivesse sido entortado com um alicate de bico.
Vamos ao histórico do helicóptero:
Tratava-se de um helicóptero que possuía aproximadas 1.300 horas totais de voo, que havia sido utilizado exclusivamente para o transporte do proprietário e sua família, sem histórico de problemas no motor e nenhum evento de limalha!
Além disto, como mencionado acima, o fabricante do motor havia produzido um laudo aprovando o motor para o retorno ao serviço.
Levei a questão muito a sério, pois tratava-se sobretudo de questão de honra e da necessidade de provar que não havia nada de errado com este motor, até o componente ser armazenado na seção de motores da empresa representante do fabricante da aeronave.
Coletei todas os resultados das análises espectrométricas, realizadas no óleo do motor em todas as inspeções de manutenção preventiva do helicóptero, desde a primeira manutenção, até a última que por sinal, havia sido realizada, poucos dias antes do fatídico dia do incidente.
Solicitei uma reunião com o meu Chefe e o responsável pelo departamento jurídico da nossa empresa.
Apresentei meus argumentos e as provas que dispunha. O advogado, ouvindo meus argumentos e analisando toda a documentação apresentada por mim afirmou: -"Com certeza o problema foi ocasionado durante o período em que o motor ficou sob custodia da empresa de manutenção, isto está absolutamente claro para mim!"
Após algumas reuniões entre nós, nosso advogado e os representantes dos fabricantes da aeronave e do motor, a empresa representante do fabricante e pela guarda do motor, acabou assumindo a maioria dos custos, pois possuíamos a documentação comprobatória, que nos garantiria sucesso em eventual ação na justiça.
Moral da história: Será que se este que vos narra esta história e que naquela época, era o piloto do helicóptero em questão fosse um "Hot pilot", despadronizado e com reputação, condizente com os adjetivos mencionados, tivesse apresentado exatamente as mesmas provas e argumentos, teria também logrado o mesmo êxito??
Todos nós, "vivemos de fama", temos a reputação profissional que construímos ao longo de nossas carreiras, qual a reputação que você merece ou qual deseja construir?
Cmte Thales Pereira
#safetyabraphe
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