Vânia Rodrigues [VR] – Venho de uma carreira nas artes performativas. Durante quase 20 anos fui gestora cultural. […] Foi só depois de ter feito o Doutoramento aqui na UC em Estudos Artísticos que decidi dedicar-me plenamente à investigação. […] Sou investigadora responsável […] [pelo projeto] Greenarts que se dedica à reflexão entre esta interseção entre a criação e a produção artística e esse monumental desafio que é a sustentabilidade ambiental e as exigências ecológicas.
Leonor Losa [LS] – Sou musicóloga de formação, […] licenciei-me em Ciências Musicais na Universidade NOVA de Lisboa, onde fiz também o mestrado e o doutoramento. A minha área de especialização […] [é] a Etnomusicologia […]. O meu trabalho [nessa área] tem tido vários percursos distintos: no início dos anos 2000 trabalhei a indústria discográfica em Portugal […]. Depois de duas décadas em Lisboa, achei que era tempo de conhecer novos colegas, encetar novos diálogos numa perspetiva interdisciplinar […]. Estou no CEIS20 há cerca de um ano e sou Professora Auxiliar na FLUC no curso de Estudos Artísticos […].
Fernando Matos Oliveira [FMO] – Tenho vindo a colaborar em trabalho docente e de investigação na FLUC, desde inícios da década de 90 do século passado. Comecei pela área dos estudos teatrais, de dramaturgia, literários e, a certa altura, juntámos um grupo que promoveu o lançamento de uma área de formação nova, o curso de Estudos Artísticos, com o qual tenho vindo a colaborar nas últimas duas décadas, no sentido de desenvolver o ensino das artes na universidade. […] [Tenho] tentado defender as artes na UC, no que diz respeito às condições de produção, criação e programação, nomeadamente num período ainda alongado durante o qual estive a acumular a direção do Teatro Académico de Gil Vicente.
FMO – O Grupo [4] é o lugar das artes no CEIS20, das artes no plural: congrega os estudos da imagem, do cinema, das artes performativas, da música e do som, e também das mediações artísticas de processos históricos e de imaginários políticos em relação com as artes e com os fenómenos estéticos […]. Agrega um conjunto de interesses e de investigadores que cruzam estas disciplinas […]. O desafio do Grupo é, também, neste conjunto vasto de interesses, organizar um programa de ação para o futuro.
VR – […] A este foco de investigação crescente no campo das artes, tem[-se] procurado acrescentar […] as atividades comummente designadas como extra-artísticas, ou seja, tudo o que tem que ver com os processos de institucionalização da arte, com o aparato político-discursivo que rodeia os contextos em que a arte é concebida, os modos como circula, os pressupostos em que assenta o financiamento público da atividade artística […].
LL – […] Muitas vezes, quando pensamos nas artes, pensamos em algo que se passa numa esfera exterior à sociedade, uma esfera própria e que, por vezes, é analisada fora do nosso quotidiano e da nossa realidade mais prosaica. O Grupo 4 [oferece] um contexto para pensarmos a arte enquanto cultura, enquanto elemento da sociedade, e pensarmos a transformação social através da própria cultura expressiva […] como o sítio onde a sociedade também acontece.
VR – No Grupo 4 convergem muitas linhas de investigação que praticam a interdisciplinaridade […]. Nalguns casos, ela é não só intensa, mas é quase constitutiva, porque decorre do tipo de problemas complexos que os investigadores analisam. A partir do momento em que nos propomos dar atenção à interseção entre a produção de arte (ou cultura, em sentido mais lato) e as diversas transformações sociais, estamos permanentemente a ter de mobilizar campos de conhecimento diversos, a ter de desafiar inteligências que estavam convencionalmente dispersas por determinadas disciplinas. […]
FMO – […] A questão da interdisciplinaridade no nosso Grupo é muito relevante porque as mediações tecnológicas contemporâneas, a aceleração do tempo, tem vindo a colocar questões muito urgentes às disciplinas tradicionais, até no âmbito artístico e dos estudos artísticos. Há uma certa erosão das fronteiras disciplinares que é muito clara na criação contemporânea […] e isso é motivo de reflexão interna do Grupo e também de ação estratégica que pretendemos desenvolver […].
LL – […] O Grupo 4 acolhe […] perspetivas emergentes sobre a investigação artística, e a prática artística também como investigação, ou seja, o modo como a produção artística, criativa, o gesto criativo, é em si mesmo conhecimento […].
FMO – Algo que temos falado é dessa importância de fazermos neste Grupo um trabalho de coordenação das artes […] porque a UC tem, nesse ponto, algumas vantagens que pode aproveitar […], nomeadamente a existência de uma estrutura de produção e programação como o Teatro Académico de Gil Vicente, estruturas expositivas como as galerias que estão no Colégio das Artes… Portanto, este tipo de equipamentos que existem, e têm atividade intensa, podem ganhar escala, coordenando o seu trabalho e a sua ação, nomeadamente em relação com o nosso Grupo. Uma das coisas que queremos fazer é aproximar estas dinâmicas […] e reivindicar essa legitimação da arte como produção de conhecimento e como conhecimento […].
VR – […] Nós [Vânia e a Leonor] respondemos a esta pergunta com alguma cautela, com uma enorme ressalva de quem está a chegar, a fazer um esforço de conhecer profundamente o Grupo para poder dinamizá-lo a partir do repto que o Fernando assinalou, e de outros que queremos abraçar. […] [É necessário] entrar em diálogos internacionais. […]
LL – Existe uma vontade, na qual eu me espelho pessoalmente, que é a do reforço das dinâmicas entre os investigadores, para lá da interdisciplinaridade, fomentar cada vez mais uma interrelacionalidade e uma produção dialógica de conhecimento […].
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