Olá , bom dia!
Era início da tarde, quando pousamos em Campo Grande/MS.
Meu patrão na época estava em dificuldades com os negócios e tinha uma reunião importante e decisiva... Ao desembarcar, me perguntou: - "Cmte, até qual horário podemos decolar daqui para Presidente Prudente?" Eu prontamente respondi: "até no máximo às 16h00!"
Era um Bell Jet Ranger III, o trajeto seria de aproximadamente 200 NM , (02:00 horas de voo) e este que vos escreve tinha lá suas 450 horas totais de experiência de voo...
O patrão saiu apressado do aeroporto, rumo ao seu compromisso, eu almocei e fui para uma salinha confortável da BR Aviation, que eles disponibilizavam para tripulantes.
Liguei a TV, o ar-condicionado e sentado confortavelmente no sofá, peguei no sono...
Quando acordei, olhei no relógio e vi que já eram 15h30, me levantei e fui as pressas em direção ao portão C, ingressei no saguão do aeroporto e lá fiquei aguardando o chefe chegar...O tempo foi passando... passou das 16h... 16h30 e quando ele chegou... eram umas 17h20.
Apressado e nervoso foi dizendo: -"Vamos embora Cmte, amanhã tenho coisas importantes pra resolver na empresa!"
Eu então, completamente sem jeito e sentindo a pressão da situação, disse: - "Ok, vamos embora..."
Fiz uma notificação de voo para um aeroporto próximo, chamado Teruel, para que aceitassem meu plano e decolamos por volta das 17h45.
Em aproximadamente 15 minutos após a decolagem, o sol se pôs e começou meu martírio.
Meu chefe dizia: - "Acenda o farol! "Achando ele que isso serviria de alguma ajuda...
Imagine você.... voar sobre o "breu total" por mais de 01hora e 45 min, com um piloto iniciante na carreira e num helicóptero monomotor, sem nenhuma automação...
Após mais alguns minutos, suando frio, comecei a sentir os sintomas da desorientação espacial, meus sentidos diziam que o helicóptero estava em curva, quando o horizonte artificial mostrava que estávamos nivelados.
Meu chefe, antes corajoso, limpava o suor da testa com um lenço e dizia: -"Mantenha-se firme Thales!"
Eu nunca rezei tanto na minha vida...
Procurei manter o climb zerado e comecei a não usar mais o cíclico para corrigir o rumo, somente os pedais, com medo de inclinar a aeronave e não ser capaz de nivelar novamente.
Milha após milha, fui voando nesta luta para não me desorientar, até que entrei na "CTR Prudente", chamei o controle e meio incrédulo, o Controlador que me conhecia questionou: "Confirme a matrícula?" Eu confirmei e na sequência, ainda surpreso, mas cumprindo o procedimento padrão, ele me questionou: " Aeronave e tripulação certificadas para voo por instrumentos ?" Eu respondi: - “Negativo!"
Na sequência, o Controlador, numa demonstração de profissionalismo e senso humanitário, meio que me "vetorou" até o pouso.
Quando já estávamos no solo, avistei três homens de azul caminhando em nossa direção...eram os oficiais da Força Aérea Brasileira que serviam no destacamento do aeroporto de Presidente Prudente.
Se aproximaram e um deles disse: - " Thales , esperamos que isto não se repita e se voltar a ocorrer , vamos reportá-lo."
Olhando para o meu chefe, respondi: " Fiquem tranquilos, eu aprendi a lição, não irá se repetir!"
É necessário que eu também relate aqui os erros cometidos durante a minha trajetória.
Se aprendi de uma forma "um pouco mais difícil ", mas sobrevivi e espero com isto que vocês, iniciando na carreira , aprendam sem a necessidade de passar por uma situação semelhante.
Transmitir conhecimento, vai nos manter voando.
Cmte Thales Pereira
#safetyabraphe
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