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Quando tudo ficou mais longe

Não há nas séries históricas da Anac nenhum mês em que se voou tão pouco no Brasil quanto durante a pandemia, ao menos desde 2000

por MARCELO SOARES

Um tombo de gigante

Até a pandemia, o mês em que menos pessoas voaram foi o fevereiro após as crises de 2002

Hoje minha afilhada completa 5 anos, em Porto Alegre. Vou participar pela tela do celular, devido a pandemia. Mas mesmo depois que isso tudo passar, pode ficar ainda mais difícil de manter frequência nos abraços de verdade.

Há muito tempo não se voava tão pouco no Brasil. Desde que o vírus chegou ao país, vindo da Europa de avião, os aeroportos foram um dos primeiros lugares que passaram a ser evitados. No auge do respeito ao vírus, em abril, apenas 413 mil bilhetes aéreos foram usados - menos de um quinto do que se usou em fevereiro de 2003, mês mais modesto da série de duas décadas mantida pela Anac. 

Olhando mais de perto, com os dados a partir de 2019, vemos um começo de volta dos voos, mas ainda assim longe dos patamares habituais. À parte, calculei as quantias recebidas pelas empresas aéreas com as passagens vendidas no período. Pareceu bastante possível que, quando pudermos voar novamente, as passagens estejam bem mais caras do que os preços que nos habituamos a pagar. Vale observar as mudanças que deverão vir por aí.

Apenas em julho, mês com maior detalhamento de dados na Anac, 644 trechos nacionais que tiveram voos em janeiro simplesmente tiveram zero passageiros.
Teia aérea

O que houve com a rede de voos entre janeiro e julho

janeiro/2020
1.223 trechos nacionais

Embora mal houvesse voos diretos entre o Sul e o Norte do Brasil desde 2016, em janeiro muito mais pontos eram melhor conectados

julho/2020
579 trechos nacionais

Em julho, já havia maior retração dos trechos. A maior parte das conexões ocorria entre menos pontos. Vários ficaram isolados.

PRECISA VER ESTES DADOS POR OUTRO ÂNGULO?

Todos os dados utilizados nesta newsletter vêm do lago de dados organizado pela Lagom Data. Caso você ou sua empresa/organização considerem útil algum outro tipo de recorte, seja regional ou por ocupação, solicite uma cotação. Podemos preparar análises com infográficos estáticos ou interativos prontos para publicação.

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Lagom Data na
Columbia Journalism Review

Marcelo Soares foi um dos 44 jornalistas entrevistados ao redor do mundo para falar sobre suas experiências cobrindo a Covid e crises geradas por governos autoritários. No Brasil, também foram ouvidos Fabiano Maisonnave (que cobre a Amazônia para a Folha) e Juliana Dal Piva (que revelou detalhes inéditos sobre as rachadinhas da família Bolsonaro em O Globo).

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Cada vez mais, dar o seu recado usando dados é parte do dia-a-dia de todas as profissões. Neste curso de quatro sábados, que ofereço no Mackenzie em outubro, vou dividir com os participantes algumas coisas que aprendi em duas décadas sobre obtenção, análise e visualização de dados.

Não importa sua área de atuação; como o curso será online e ao vivo, você também pode estar em qualquer parte do mundo. Quanto mais diversidade de experiências e lugares, melhor. A universidade oferece certificado ao final.

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Defrag mental
O que estamos lendo, assistindo e ouvindo
"Notas sobre a pandemia" (Y.Harari)

O historiador israelense Yuval Noah Harari ganhou proeminência nos últimos anos por seu olhar abrangente sobre as mudanças do mundo, expresso com clareza e leveza. Tirei meu chapéu para seu estilo quando saboreei o livro "Sapiens" (2015). Sua quarta obra é basicamente uma coletânea dos melhores artigos e entrevistas que produziu desde o início da pandemia. Tem sempre ideias muito boas, de leitura rápida e fluida. Não há, porém, uma organização temática como a que ele fez de matéria-prima semelhante em "21 lições para o século 21" (2018).

"O Dilema das Redes" (Netflix)

Este documentário entremeado por trechos de ficção vem dividindo meus conhecidos. Metade acha revelador, metade não vê novidade. Ele discorre sobre os efeitos nefastos das redes sociais. O destaque são as entrevistas com ex-funcionários das grandes empresas do ramo, especialmente Tristan Harris, ex-eticista do Google. Se você acompanhou o noticiário dos últimos anos e leu alguns livros a respeito, realmente soa como mesmice. MAS agora você pode dizer que não é só sua opinião, pois foi o criador do botão do like quem disse.

Convivendo com o vírus (Esper Kallás)

Em artigo aprofundado na "Ilustríssima" do último domingo, o médico infectologista traça alguns cenários de futuro a partir do que aprendemos convivendo com a incerteza nos últimos meses. "Precisamos concentrar esforços em entender a epidemiologia, a resposta imune e os mecanismos da doença, bem como no encontro de formas mais eficazes de tratamento e no desenvolvimento de vacinas que reduzam o impacto do vírus na saúde pública."

"Goats Head Soup" (Rolling Stones)

É notável o esforço que a banda de rock com mais tempo em atividade que já houve está fazendo para relançar este disco de 1973. E funciona. Ele foi pouco apreciado quando saiu, mas era covardia: o anterior tinha sido Exile on Main Street e o seguinte foi It's Only Rock'n'Roll. Saindo em 2020? Dá um banho em quase toda novidade (menos o Whoosh, do Deep Purple, claro). As três faixas extra incluem "Scarlet", com Jimmy Page dando uma canja e clipe com Paul Mescal, ator de "Normal People".

Lagom Data

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