Esse foi um ano desafiador em todas as direções para as quais a gente olhar, e por isso vou focar em apenas uma delas: nossa relação com o diferente. Em dezembro do ano passado enviei nossa newsletter falando sobre quão importante eu acreditava ser mudar nosso pensamento para então mudar também nossas ações. Mal sabia eu que 2020 seria provavelmente o ano que essa questão mais apareceria em minha vida, principalmente devido à pandemia que estamos vivendo há tantos meses.

Há algum tempo venho pensando em formas mais eficazes de realmente cooperar com o que acredito ser positivo e transformador ao nosso redor sem apenas discordar combativamente do que está sendo feito. Por anos o julgamento foi o combustível para muitas das minhas ações, até que percebi que esse comportamento não era eficaz. Se eu realmente queria fazer algo bom a curto e longo prazo, não seria essa a forma mais eficiente de fazê-lo.

Arrumei muita confusão por questões sobre as quais mudei de ideia e discordo profundamente da posição da Ana de antigamente - valeu mesmo a pena essa indisposição toda? Hoje em dia eu sinceramente acho que não, pelo simples fato de não ter mudado nada pra melhor agindo assim. Eu queria apaixonadamente impor minha opinião (que considerava superior) sem sequer ouvir e compreender o outro lado, mas não gostava quando o outro lado fazia o mesmo. Se sei disso, por que essas ainda são as formas de pensamentos que brotam primeiro na minha mente diante de algo que discordo?

Foi em busca de respostas pra essa questão que passei esse ano buscando saber mais a respeito, e sinto que só arranhei a superfície teórica do tema, nem a pontinhas dos pés no oceano da prática eu coloquei ainda. Hábitos mentais são tão arraigados que temos uma imensa dificuldade em perceber quando começam - quando vemos, já engajamos mais tempo neles do que gostaríamos. Minhas opiniões mudaram ao longo dos anos, enquanto a forma de pensar, não muito. Esse exercício de auto observação é diário e leva muito tempo para começar a vermos resultados concretos.

Como difícil não é impossível, entro em 2021 com mais um compromisso: que ao invés de seguir me desgastando em embates mentais e emocionais com aquilo que discordo no mundo, que eu possa olhar cada dia mais para iniciativas solidárias e compassivas que precisam tanto dessa energia e dedicação, e nunca esqueça que há muita, muita coisa boa acontecendo em todos os lugares, todos os dias. Optar por fortalecê-las é sempre possível, ainda mais no momento pelo qual estamos passando!

E indo além, que eu não considere o diferente como um inimigo em um espectro radicalmente oposto ao meu. Outras formas (muito mais eficazes, inclusive) de resolver questões e conflitos advindos da diferença são possíveis e urgentes em um mundo tão polarizado. Ouvir atentamente, compreender o que é dito, abrir possibilidade de diálogo e julgar menos é sempre o primeiro passo desafiador pra mim, mas que ando tentando tomar para que esse planeta possa ser gentil com todos os seres, e não apenas os que eu projeto merecedores a partir de parâmetros puramente pessoais. Manter um canal de diálogo aberto é essencial, porque se muitas das pessoas diferentes de mim tivessem fechado esse canal, eu não teria tido a oportunidade de aprender muito do que sei hoje.

Que esse fim de ano possa ser seguro, dialógico, amoroso e solidário para todos - sigo acreditando que a gente também pode fazer parte da mudança que queremos tanto ver por aí :)

Um lindo início de novo ciclo coletivo a todas nós!
Com carinho,
Ana