Uma nova newsletter para ti |
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Estamos muito felizes por pôr este pequeno projecto cá fora! Por um lado, porque vem responder aos inúmeros pedidos que recebemos para partilhar mais informação e conhecimento. Por outro, porque dá início a uma nova fase de maior actividade nos Kitchen Dates, ainda mais comprometidos com esta ideia de ajudar pessoas como tu e organizações a adoptar práticas mais conscientes e sustentáveis – sobretudo através da alimentação.
Somos consumidores compulsivos de todo o tipo de conhecimento sobre alimentação e sustentabilidade, mas sabemos que nem toda a gente tem disponibilidade para isso. Por isso, trazemos-te uma síntese daquilo que mais importa.
Esta newsletter quinzenal vai dividir-se em três secções: reflectir, partilhar e saborear. Vamos olhar para tendências e novidades, para artigos relevantes e estudos que importa conheceres. Mas também teremos dicas – muitas dicas – para reduzires o desperdício alimentar em casa, para simplificares a tua vida sem prejudicar o planeta, para consumires de forma mais cuidada. E por fim trazemos-te sugestões de produtores, restaurantes, eventos e outros projectos que deves conhecer.
Vens connosco nesta viagem?
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REFLECTIR
Um aperitivo de ideias, leituras, inovações e tendências para te manteres a par dos temas e discussões mais importantes.
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E se todos tivéssemos hortas no telhado? |
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Este exemplo de Bruxelas mostra o potencial da agricultura urbana, incluindo o aproveitamento do topo dos edifícios para cultivar alimentos – que por sua vez também serve para reduzir a temperatura nas cidades, recolher água das chuvas e até para melhorar a eficiência térmica dos próprios prédios.
É de saudar o surgimento de cada vez mais iniciativas que contribuem para um sistema alimentar mais saudável e sustentável. Parte dessa transição passa pelos métodos de produção – e quem conhece o nosso trabalho sabe que somos grandes defensores da agricultura biológica como critério base para uma maior confiança no produtor.
Quem quer maçãs envenenadas?
O mais recente relatório da Pesticide Action Network Europe veio deixar ainda mais a nu o impacto dos químicos de síntese na agricultura e na nossa saúde, e a importância de transitarmos cada vez mais para o consumo de produtos biológicos como alternativa.
Em Portugal, foi detectada a presença dos tipos de pesticidas mais nocivos em 85% das pêras e em 58% das maçãs analisadas – em ambos os casos, representa o segundo pior resultado de todos os países que fizeram parte do estudo. Quão chocante é isso?
Ou veneno na urina?
Um estudo realizado nos Estados Unidos detectou a presença de glifosato na urina de mais de 80% dos adultos e crianças analisados (de um total de 2310 amostras). O glifosato é o herbicida mais conhecido e utilizado à escala global, não só na agricultura como também em zonas urbanas, em ruas e caminhos, para controlo de ervas daninhas.
Este químico tóxico continua a ser usado liberalmente tanto nos EUA como na Europa, apesar de ser considerado "provavelmente carcinogénico" pela International Agency for Research on Cancer, parte da Organização Mundial da Saúde, desde 2015. Vários estudos publicados desde então apontam na mesma direcção, embora também haja organizações a contrariar essa conclusão. Autorizado na União Europeia até Dezembro deste ano, resta saber se a licença será renovada. Sem uma opinião consensual entre os especialistas (independentemente das suas próprias crenças e afiliações), é quase certo que a licença será prolongada.
O glifosato é um herbicida não-selectivo, o que quer dizer que mata a maioria das plantas quando aplicado. Quais as principais excepções? Plantas que foram geneticamente modificadas para serem tolerantes a esta substância.
O glifosato é ainda o principal ingrediente do famoso Roundup, produto da empresa americana Monsanto, adquirida em 2018 pela gigante Bayer. Esta aquisição revelou-se um verdadeiro presente envenenado, que tendo em conta que a Bayer se viu em mãos com cerca de 138 mil processos em tribunal – de pessoas que acusam este produto de ser responsável pelo seus cancros. Há um ano, a empresa alemã já tinha ultrapassado os 11 mil milhões de dólares em indemnizações, e ainda conta com inúmeros casos por resolver.
Por esta altura estarás talvez a pensar que a situação em Portugal não poderá ser tão má quanto nos EUA. O primeiro estudo sobre a presença de glifosato na urina dos portugueses foi realizado por investigadores da Universidade do Porto e da Universidade Católica. Publicado em 2020, chegou de facto a números menos dramáticos. No entanto, há um elemento relevante a considerar: 80% dos participantes no estudo indicaram consumir produtos biológicos – razão pela qual estarão menos expostos a herbicidas (dado que não são autorizados na agricultura biológica), o que naturalmente distorce os resultados finais da investigação.
Por cá, a Quercus tem sido particularmente activa no combate ao glifosato, sobretudo na sua aplicação pelas autarquias em espaços públicos. Nesta página podes consultar quais as autarquias que já se comprometeram com a não aplicação de glifosato, assim como ideias para cada um de nós agir nas suas comunidades.
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O jornal "Público" tem sido de longe o meio de comunicação social a dar mais atenção às temáticas da alimentação e da sustentabilidade. Com a Conferência dos Oceanos da ONU a acontecer em Lisboa e a situação de seca extrema, muitos dos seus jornalistas escreveram vários artigos sobre a água e o mar.
Se a discussão em torno das estufas de Odemira deixou a nu as questões associadas ao trabalho imigrante na terra, com a agricutlura, esta reportagem da Vera Moutinho faz o mesmo com o mar. Cada vez mais, a pesca em Portugal faz-se com recurso a mão-de-obra estrangeira – em particular com um grande fluxo de indonésios. Como é que cá chegam? De que forma são tratados? As respostas estão no artigo.
Deixamos-te ainda outras duas reportagens com um tópico semelhante: a escassez de água. A primeira põe o foco naquilo que podemos poupar em casa; a segunda olha para a agricultura para perceber de que forma vamos produzir (mais) alimentos com cada vez menos água.
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PRATICAR
Dicas para uma vida mais consciente, saudável e sustentável, com especial atenção para a alimentação.
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Ketchup sem tomate
Se nos acompanhas há algum tempo sabes que estamos sempre a bater nesta tecla: é importante quebrarmos as barreiras em relação à forma como concebemos a utilização de cada alimento ou a composição de cada produto. Dá-nos uma flexibilidade completamente diferente na cozinha, torna-nos em verdadeiros ninjas. Para dar um exemplo concreto: ketchup. É sinónimo de tomate para (quase) toda a gente, certo?
Aplicando o nosso próprio raciocínio: e se fizéssemos ketchup sem tomate? Sobretudo em alturas do ano em que não há tomate, não custa nada pensarmos em alternativas (que não impliquem simplesmente ir ao supermercado e comprar aquela embalagem vermelha 🤓). E uma delas, disponível todo o ano, é a banana. Sim, leste bem – ba-na-na!
O que é que um bom ketchup tem? Doçura, acidez e temperos. Ora, o tomate tem doçura e acidez, mas a banana só traz doçura. Por isso, para equilibrar o sabor basta acrescentar mais vinagre (ou não usar açúcar, algo que praticamente todas as receitas sugerem). Na verdade, outras frutas poderiam funcionar igualmente bem aqui. De resto, podes seguir qualquer receita de ketchup como se nada fosse. Deixamos-te duas opções:
- Expresso. Se quiseres poupar tempo, podes simplesmente usar banana crua, ao natural. Como tem menos água do que o tomate, a textura não ficará assim tããão diferente do ketchup convencional. No entanto, o sabor não será tão profundo.
- Sem atalhos. Nesta versão levas a banana ao lume, para cozinhar um pouco e libertar ainda mais da sua doçura. O resultado final terá uma consistência mais interessante, mas também um sabor mais acentuado (e doce) a banana, o que provavelmente implica corrigir mais os temperos no fim.
Por aqui fazemos esta receita a olho, uma vez que é bastante tolerante a erros. Seja como for aqui ficam as quantidades mais ou menos aproximadas:
- 3 bananas da Madeira ou dos Açores (só a polpa; podes desfiar a casca e saltear, mas só se forem biológicas!)
- 1 cebola pequena (preferencialmente roxa)
- 2-3 dentes de alho
- 1/2 chávena de vinagre de sidra (idealmente não pasteurizado)
- 1 malagueta pequena (opcional)
- pitada de sal
MÉTODO
Versão Expresso
- Numa liquidificadora, tritura todos os ingredientes até obteres uma pasta homogénea. Podes também usar uma varinha mágica, se preferires.
- Prova e corrige os temperos de acordo com o teu gosto.
Versão Sem atalhos
- Pré-aquece uma frigideira antiaderente em lume médio.
- Salteia a cebola picada (sem gordura), juntando um pouco de água se necessário. Faz o mesmo com o alho, também picado, quando a cebola já estiver translúcida. Quando estiver bem cozinhado, reserva.
- Adiciona a banana cortada em rodelas e deixa caramelizar de um lado e do outro, por alguns minutos.
- Quando a banana começar a desfazer-se, junta metade do vinagre para refrescar e desliga o lume.
- Numa liquidificadora, tritura todos os ingredientes até obteres uma pasta homogénea. Podes também usar uma varinha mágica, se preferires.
- Prova e corrige os temperos de acordo com o teu gosto.
NOTAS
- Se quiseres obter uma cor mais parecida com a do ketchup tradicional, acrescenta algum ingrediente de cor mais avermelhada (beterraba crua/cozinhada ou em pó, pimento vermelho, etc.). Tem em atenção, claro, que vai também modificar o sabor final.
- Optes pela primeira ou pela segunda opção, este ketchup conserva-se no frigorífico por 5-7 dias.
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Podíamos ficar por aqui e saborear este ketchup tal como qualquer outro. Mas e se usássemos este molho como tempero num fermentado? A ideia surgiu outro dia num dos showcookings que demos na Cidade do Zero, sem alguma vez termos testado isto na nossa cozinha. Íamos mostrar como pegar em grandes quantidades de couve (seja ela qual for) e fazer um simples chucrute. Mas na bancada estava este ketchup acabado de fazer, o que rapidamente levou ao raciocínio de que podíamos usá-lo para temperar a couve. E assim foi.
Ontem, ao fim de uma semana a fermentar, provámos finalmente o resultado. Ficou delicioso, até mais do que aquilo que esperávamos que ficasse. E assim, de um momento espontâneo, surgiu uma nova receita, um novo produto, uma nova solução.
Como fazer chucrute em 5 passos
- Corta a couve (coração, portuguesa, galega, pak choi, chinesa – o que for) bem fininha (podes ralar, se preferires).
- Passa-a para uma taça e adiciona sal. Nós usamos 3% de sal em relação ao peso da couve. Ou seja, a 1 kg de couve juntamos 30 g de sal.
- Massaja bem a couve até que liberte a sua própria água. Se quiseres juntar temperos (como o ketchup de banana), fá-lo neste passo.
- Transfere para um frasco, prensando bem para que fique compacta, com a couve submersa no seu próprio líquido.
- Fecha o frasco e espera pelo menos uma semana até começares a consumir; idealmente aguarda duas ou três semanas, para que o sabor se desenvolva.
NOTAS
- Tradicionalmente o chucrute não leva vinagre. Neste caso, ao adicionar o ketchup de banana, levou. O vinagre vai contribuir para abrandar o processo de fermentação (ao acidificar o produto), mas não é nada de preocupante.
- O frasco deve ficar num armário ou outro lugar seco, longe da exposição solar. Só quando estiver pronto a consumir deves passá-lo para o frigorífico.
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Às vezes menos é mais
Quando queremos fazer cada vez mais e melhor na cozinha é fácil rodearmo-nos de demasiados gadgets, electrodomésticos e utensílios aos quais depois damos pouco uso. Ou então temos uma cozinha pequena e damos por nós sem espaço para nos mexermos.
Por estas razões e muitas mais vemos muita gente torcer o nariz quando falamos da utilidade de ter um desidratador em casa. É um equipamento incrivelmente versátil, e um grande aliado no combate ao desperdício alimentar. De facto ocupa muito espaço (e custa algum dinheiro), por isso entendemos que não seja solução para a maioria.
Por outro lado, somos dos países do mundo com mais carros per capita, por isso é altamente provável que tenhas um à tua disposição. E para este efeito nem precisas de carta de condução, além de rentabilizares o tempo que está parado (a média é 95% do dia) e de poupares efectivamente os recursos necessários à produção de mais um equipamento de cozinha.
A que propósito vem esta conversa? Este vídeo da Anne-Marie Bonneau (também por 'Zero-Waste Chef') sobre como transformar o teu carro num desidratador 🤯.
Se experimentares responde-nos a este email a contar a tua experiência!
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SABOREAR
Projectos, restaurantes, marcas e outras recomendações com o selo de confiança Kitchen Dates.
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É tempo de férias e isso é sinónimo de migração de muitos portugueses rumo ao Algarve. Sim, a praia é o que mais interessa, mas felizmente há cada vez mais sítios interessantes para descobrir. Um deles já tem lugar cativo nos nossos favoritos desde a primeira visita – o Pisco, na Vila do Bispo. De inspiração italiana mas com raízes bem profundas na região, tem uma cozinha criativa, que surpreende e acima de tudo nos recebe com um abraço a cada visita. Tanto que saímos sempre a contar os dias até ao regresso.
R. Cmte. Matoso 2, 8650-413 Vila do Bispo seg-sáb, 18-22h (reserva altamente recomendada)
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Apesar de passarmos férias todos os anos em Lagos, havia um sítio que, mesmo estando próximo, continuávamos sem conhecer: a Quinta Vale da Lama, em Odiáxere. Já éramos clientes dos hortícolas biológicos directamente da sua horta, o que faltava mesmo era ir explorar a quinta e comer no restaurante. Foi isso que fizemos na última ida ao Algarve e não saímos desiludidos. A qualidade dos ingredientes ajuda, claro, mas o bom trabalho na cozinha também faz a diferença.
Depois de comer dá para caminhar pelas redondezas ou até ficar só a relaxar, como na cama de rede ou à beira da piscina. A Alice que o diga :)
Quinta Vale da Lama, 8600-258 Odiáxere, Lagos qua-dom, 12-14h30; 19-21h
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A Inês era enfermeira em Londres mas com a pandemia decidiu regressar a Portugal. Enquanto se deparava com dificuldades em cumprir com a burocracia para voltar à profissão por cá, pôs as mãos na massa e começou a fazer rolinhos de canela. Depois recuperou os conhecimentos de longa data em pão de fermentação lenta e quando deu por si tinha uma micropadaria a partir de casa. Assim apareceu a All Things Dough.
A procura cresceu e com isso a Inês acabou por abrir um espaço ao público, junto à marginal de Lagos. Dali saem diariamente muitos pães, mas também rolinhos doces (de canela, avelã e chocolate, cardamomo, laranja, etc.), croissants e cruffins (croissants cozidos como muffins), tanto para clientes particulares como para mercearias e restaurantes na zona. E é tudo 100% vegetal.
R. Cidade de Torres Vedras 16, 8600-744 Lagos ter-sáb, 8h30-15h (o pão esgota rápido, por isso reserva!)
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