por MARCELO SOARES
Meu plano original era fazer a newsletter desta semana usando dados da CPI da Pandemia. Montei um banco de dados com as transcrições de todas as falas. No final de semana creio que disparo uma newsletter especial com isso.
Ocorre que hoje é 13 de maio, e é importante observarmos como os negros são afetados pela Covid de maneira diferente dos brancos – e o quanto é precário nosso conhecimento do assunto, por vários motivos. Conversei com o Pablo Ortellado sobre isso, há algumas semanas.
O gráfico acima, uma pirâmide etária, quebra os mortos de Covid por faixa etária (de 10 em 10 anos) e cor/raça. Agreguei os identificados como pretos e pardos nas barras amarelas, os identificados como brancos nas barras azuis. E coloquei uma barra sobre a outra para enfatizar a diferença.
Se você olhar bem, as proporções de mortos entre os negros até os 69 anos são maiores que as dos brancos. A partir de então – nas faixas etárias consideradas de maior risco de morrer com a Covid –, isso muda. Ou seja, os pretos e pardos morrem mais jovens de Covid.
Entre os brancos, 25% dos mortos tinham até 60 anos.
Entre os negros, 30% dos mortos tinham até 60 anos.
Isso sugere um impacto maior dentro da População Economicamente Ativa.
Como você viu em semanas anteriores, houve grandes aumentos nos desligamentos por morte excedentes entre profissões que não puderam ser exercidas de casa durante a pandemia. Essas profissões são em grande parte exercidas por pessoas identificadas como pretas e pardas.
Mas por que eu insisto tanto no "identificadas como"?
O sistema que fornece dados mais completos sobre pessoas que foram internadas nos hospitais é o Sivep-Gripe, cujos dados estão disponíveis no OpenDataSUS. Ele tem vários campos que seriam muito úteis para análise, incluindo cor/raça, escolaridade e ocupação. Escolaridade quase não é preenchida, ocupação quase só é quando o paciente é profissional da saúde.
Até julho do ano passado, uns 15% dos registros de pacientes mortos no Sivep-Gripe não estavam preenchidos no quesito cor e raça; outros 15% informam "indeterminado", porque não levantaram a informação, e isso se mantém.
Foi por aí que fizemos com a revista Época a reportagem sobre o perfil de quem é "a cara da Covid no Brasil": homem, pobre e negro. Dos registros que continham informação, havia mais pretos e pardos do que brancos. Depois, mas não por isso, o campo passou a ser de preenchimento obrigatório, porque se considerou importante conhecer o perfil de cor e raça de quem morre de Covid.
O que aconteceu a partir daí? Um certo "embranquecimento" dos pacientes.
|