[Esta newsletter esteve em recesso temporário devido ao acúmulo de outros trabalhos na Lagom Data. Estou estudando o melhor ritmo daqui pra frente.]
Todos já vimos a importância que o inquilino do Alvorada dá à cloroquina (e hidroxicloroquina), vendendo-a como a salvação da pandemia. Sabemos o peso que ela ganhou no imaginário da população. Agora, finalmente, temos como saber o impacto comercial disso.
Em março, no começo da pandemia, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) incluiu a cloroquina e a hidroxicloroquina no rol dos medicamentos com receita controlada. Em julho, a regulamentação foi aprofundada e passou a incluir nitazoxanida e ivermectina, também receitados contra a Covid por insistência do governo. A azitromicina já era um remédio controlado há bastante tempo.
Embora seja um medicamento conhecido há décadas e utilizado no tratamento de doenças virais como a malária, a cloroquina só virou o que virou porque um especulador de criptomoedas com diploma de medicina resolveu inventar um paper propagandístico visando movimentar a economia. (A história está muito bem contada numa reportagem longa da Wired de dezembro.) Do seu computador, a substância caiu nas graças de Donald Trump, e do colo deste foi parar na boca do inquilino do Alvorada. O resto da história estamos exaustos de saber.
O que não sabíamos eram este número: até agosto deste ano - os dados de setembro parecem incompletos para todos os medicamentos -, foram vendidas:
- hidroxicloroquina: ao menos 17,6 mil caixas (preço médio R$ 50)
- ivermectina: ao menos 645,3 mil caixas (preço médio R$ 50, receitas controladas desde julho)
- nitazoxanida: ao menos 825,7 mil caixas (média R$ 11, controlada desde julho)
- azitromicina: ao menos 498 mil caixas (média R$ 20 a caixa) acima da média mensal de 150 mil entre janeiro e abril
E onde vendeu mais?
Claro, sabemos que tudo vende mais em São Paulo e no Rio, devido à quantidade de habitantes. Os mapas abaixo, portanto, mostram o número de caixas por mil habitantes, em cada Estado, dos dois principais medicamentos controlados a partir da Covid-19:
|