Essa semana eu estava lendo um artigo muito interessante no The Guardian que aborda como 'não lembrar de nada' é uma queixa muito comum hoje em dia, investigando se o culpado é de fato o que pensamos ou a tecnologia. Ele levanta perguntas muito pertinentes como: ter mais memória em nossos bolsos significa haver menos em nossas cabeças? Os infinitos alertas e distrações nos impedem de formar novas memórias?
Comecemos com uma verdade: 'a memória é estranha, imprevisível e, em termos neurocientíficos, ainda não totalmente compreendida.' A smartphonification da vida vem crescendo desde meados dos anos 2000, mas foi acelerada pela pandemia, assim como o uso da Internet em geral. Junto dela, veio estresse, isolamento e exaustão, todos fatores bem conhecidos por seu impacto na memória. De acordo com Catherine Loveday, pesquisadora na área, 80% sentiram que suas memórias estavam piores que antes da pandemia no ano de 2021. Fomos bombardeados por notícias e nos refugiamos nas distrações garantidas pelas mídias sociais, que pelo visto parecem afetar o quê, como e SE nos lembramos.
Quando se busca a opinião de neurocientistas, há uma divisão. De um lado, o pensamento de que usar dispositivos externos para aumentar nossos processos de pensamento ou de memória é OK, principalmente porque os tipos de coisas que usamos nossos telefones para lembrar são, para a maioria dos cérebros humanos, difíceis de serem lembradas. Já a outra visão acredita que uma vez que paremos de usar a memória, ela piorará, o que faz com que utilizemos nossos dispositivos ainda mais. Aqui, aumentar essa utilização pode até soar conveniente, mas tal conveniência tem um preço.
Chega a ser assustador, mas eles falam que quanto menos usamos a mente, há mais chances de desenvolver demência. É fato que quando não estamos 100% presentes em uma experiência/momento, menos nos lembramos daquilo e com menos experiências recortadas, menor é a nossa capacidade de ter novas ideias e de colocar a criatividade pra jogo. Como a renomada neurocientista e pesquisadora de memória, Wendy Suzuki, coloca no podcast de neurociências de Huberman Lab: "Se não conseguimos nos lembrar do que fizemos, das informações que aprendemos e dos eventos de nossas vidas, isso nos muda... [A parte do cérebro que se lembra] realmente define nossas histórias pessoais. Ela define quem nós somos".
A neurocientista de Cambridge, Barbara Sahakian, se interessou em saber se as constantes distrações causadas por nossos dispositivos poderiam estar impactando nossa capacidade de realmente não apenas acumular memórias, mas transferi-las para armazenamento a longo prazo, impedindo assim, a nossa capacidade de produzir pensamentos profundos e interessantes. Para ela, uma das coisas que impede a capacidade de nosso cérebro de transferir memórias do armazenamento de curto para longo prazo é a distração. “Se você se distrair no meio dela - por uma notificação, ou pelo desejo avassalador de pegar seu telefone - você não terá realmente as mudanças físicas necessárias para armazenar essa memória".
"Se você pensa que sua memória e foco pioraram e está culpando coisas como sua idade, seu trabalho ou seus filhos, isso pode ser verdade, mas também é muito provável que seja devido à maneira com que você está interagindo com seus dispositivos", diz Price, fundadora da Screen/Life Balance, empresa focada em ajudar as pessoas a gerenciarem o uso do telefone.
Vale a pena ler o artigo na íntegra!
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