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A rotina do absurdo

Com tudo que acompanhamos na gestão pública no Estado do Rio nos últimos tempos, estamos sujeitos a achar o absurdo normal. Por isso achei relevante dedicar a coluna de hoje para jogar luz numa dessas bizarrices que a gente tende a esquecer ali no fim da fila diante de tantos desmandos. 

No meio de abril, quando a crise na Saúde ainda não havia colocado ninguém na cadeia, eu mostrei no blog que o governo estadual estava investindo mais de R$ 62 milhões sem licitação na construção de um hospital modular em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. A empresa escolhida, aliás, já carregava problemas na Justiça no Rio Grande do Sul. 

Apesar de estarmos naquela época caminhando para o pico de casos de coronavírus, aquela foi uma obra que sempre me deixou desconfiado. O projeto sequer entrara no fatídico planejamento dos hospitais de campanha e nunca vi nenhuma movimentação clara que demonstrasse quem iria gerir aquela unidade. 

Isso sem falar no fato de que Nova Iguaçu já tinha um outro hospital de campanha sendo construído - que mal abriu por sinal. Nada fazia muito sentido. 

Ainda assim, a cada fase de obra finalizada o governo divulgava aquele que seria um "legado" para a Saúde na região. 

Pois bem. E o que temos agora? 

Há três meses a obra desse hospital foi concluída e não há qualquer indicativo de como será usado. São 300 leitos, sendo 120 que poderiam abrigar UTIs, jogados à própria sorte. São mais de R$ 62 milhões em salas vazias sendo exibidos enquanto profissionais ainda estão sem receber salários em unidades em funcionamento. 

No fim do mês passado, o secretário de Obras Bruno Kazuhiro enviou um ofício ao atual secretário de Saúde, Carlos Alberto Chaves, listando outros 15 documentos enviados desde o fim de junho para a pasta pedindo para que fossem realizadas vistorias técnicas na unidade. 

Até agora, nunca recebeu resposta. 

Dessa forma, não há nenhuma perspectiva de qual será o uso - se é que ele existirá - desse hospital. 

Num dos ofícios anteriores, o secretário de Obras disse que a construção foi um pedido da pasta da Saúde. 

É uma história que precisa ser contada. 

De quem foi a ideia desse elefante branco da pandemia? 

Vamos achar normal que R$ 62 milhões tenham sido gastos para nada? 

A lista de absurdos é grande, mas não podemos achar normal.    

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