As celebrações dos vinte anos do 25 de Abril deram-me, pela primeira vez, a oportunidade de imergir no Portugal de 1974-1975. Ao ser convidada a integrar uma equipa de investigação, que preparava uma exposição para a efeméride, entrei nos arquivos, escutei reportagens e discursos radiofónicos; vi peças televisivas, filmes e fotografias; li a imprensa da época. O mundo que se me abria pertencia ao passado, à História. Mas era uma história presente, eivada de paixões, com marcas visíveis e persistentes, no Portugal de 1994. Vinte anos passados sobre os acontecimentos, a história da Revolução estava ainda muito viva.

Três décadas depois, enfrento um novo desafio: coordenar a Comissão Executiva das Comemorações do Quinquagésimo Aniversário do 25 de Abril. Hoje, a Revolução de 1974-1975 é reconhecida como um objeto histórico, alvo do interesse de uma multiplicidade de cientistas sociais, das mais variadas áreas, e um terreno de investigação interdisciplinar por excelência. Muitos dos arquivos sobre o período encontram-se já acessíveis. Beneficiamos também do trabalho desenvolvido por académicos e jornalistas na recolha de testemunhos. A história da revolução portuguesa atingiu já a sua maioridade e dispomos de um acervo de estudos, particularmente interessante, que nos permite reconstituir e compreender esse momento central na história contemporânea portuguesa nas suas dimensões essenciais. No entanto, os desafios são múltiplos, num momento em que os que fizeram e viveram essa história estão a desaparecer e em que a maioria dos portugueses já nasceram depois do 25 de Abril. Compreender, explicar e divulgar, a história e a memória da Revolução, são tarefas urgentes que apenas poderão ser bem sucedidas se existir um intenso diálogo entre a academia e a sociedade em geral.

Maria Inácia Rezola
Comissária Executiva da Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril

©Público/Nuno Ferreira Santos

• Quem são, o que fazem, onde?

Fátima Velez de Castro [FVC] – Sou Professora no Departamento de Geografia e Turismo na Faculdade de Letras [UC] e a minha formação iniciou-se na Geografia […] com especialização em Ensino. Realizei um Mestrado em Estudos sobre a Europa, Doutorei-me em Geografia e terminei, há pouco tempo, um Pós-Doutoramento em Literatura – tudo com o denominador comum do território e das migrações. [...]

João Luís Fernandes [JLF] – Sou Geógrafo, também do Departamento de Geografia e Turismo, Licenciado e Doutorado em Geografia, Mestrado em Geografia Humana. Tenho seguido uma linha de investigação na Geografia Cultural e Política, com interesses muito interdisciplinares como as territorialidades das populações mais vulneráveis, pelo papel que a Geografia pode ter para compreender o mundo contemporâneo […]; e tenho um interesse muito particular [sobre as] questões da epistemologia da Geografia, e sobretudo da relação da Geografia com outras ciências. [...]

• Como se caracteriza o Grupo 2 do CEIS20 e qual o seu enfoque a nível de investigação?

FVC – O seu título já revela a sua natureza temática, mas também a sua natureza multiescalar, porque revela três níveis/escalas: a escala da Europa, a escala do Atlântico e a escala Mundial. […]

JLF – É um Grupo que tem de ser analisado a vários tempos. Temos as questões conjunturais que são comuns em termos políticos, ideológicos; interessa-nos muito a questão dos sistemas políticos, da democracia e questões mais vastas como a cidadania, as questões ambientais, a sustentabilidade, as fronteiras e os limites, os direitos humanos. [...]

• De que forma a investigação produzida no Grupo 2 é interdisciplinar?

FVC – O Grupo acaba por espelhar a diversidade daquilo que são os perfis dos seus investigadores e investigadoras. [...] [Queremos] valorizar uma lógica de partilha e de diálogo, a três níveis: dentro do Grupo, entre pares; fora do Grupo, mas dentro do CEIS20, com outros grupos de trabalho, com outros eixos de investigação que acabam por se cruzar naturalmente com a dimensão temática do Grupo 2; e fora do CEIS20, reforçando o contacto com alguns investigadores e redes [...]

JLF – Há uma expressão que é a “Geometria Variável”. Nenhum destes conceitos de sistemas políticos, ideológicos, cidadania, direitos humanos, pode ser pensado a partir de uma perspetiva mais demarcada em termos científicos, terá de ser sempre em diálogo e rompendo com o risco da hiperespecialização. […]. O pluralismo na nossa ciência é um grande desafio. [...]

• Perspetivas sobre o futuro do Grupo 2, linhas de ação que desejem partilhar connosco.

FVC – Gostaria de reforçar a questão da dimensão do diálogo e de partilha que é importante estimular dentro dos próprios grupos, e irmos trabalhando no sentido de acrescentar [algo de novo] ao trabalho que tem vindo a ser desenvolvido pelo Grupo ao longo dos anos. [...]

JLF – O Grupo tem uma história, penso que isso é uma das suas potencialidades, porque temos investigadores de várias gerações […], temos perspetivas temporais muito diferentes sobre o que é o Grupo e queremos reforçar este diálogo interno que é fundamental […]. É importante crescermos, chamarmos pessoas novas, com formações diversificadas […].

As iniciativas científicas de carácter interdisciplinar promovidas pelo CEIS20 e integradas na missão científica do Doutoramento em Estudos Contemporâneos, trazem à Universidade de Coimbra um conjunto de académicos de renome internacional ao longo deste segundo semestre. As próximas sessões previstas são:

• Hoje, 28 março, 14h30 – Richard Cohn (Yale University)
  Área: Conceptualização Musical
• 11 abril – Milena Dragisevic Sesic (University of Belgrade)
  Área: Interculturalismo e Mediação nas Artes
  
• 18 de abril – Bastien Llamas (University of Adelaide)
  Área: Ciência Biomédica e Bioinformática

Acompanhe todas as novidades deste ciclo e saiba mais informações.

Consulte outros eventos e atividades que envolvem o CEIS20 e os seus investigadores no Website do CEIS20